segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Elas, as mazelas.

Não é para menos. A vida num call-center provoca graves mazelas físicas e psicológicas. Além de não termos tempo para ir ao WC, além do nosso salário ser contado ao minuto num controlo muito rígido, tipo um "picar o ponto" de terceira geração, não temos quase tempo para comer. As chamadas nunca páram de cair. E caem a uma velocidade estonteante, enervante, mesmo. Somos obrigados a acelerar o ritmo natural das coisas, o que é mau, pois não somos máquinas. Só para dar um exemplo: quando comecei a trabalhar aqui, estava com a ideia de deixar de fumar... mas em breve o vício atacou, mais forte do que nunca. (Não gosto de colocar culpas alheias...mas) acho que foi culpa do call-center. Se tenho problemas e conflitos interiores a nível de stress e ansiedade, é por causa do call-center. Esqueçam o yoga e a meditação...não funciona. Começamos a atrofiar com a lentidão do processo, com as respirações, começamos a tremer porque o corpo não consegue acompanhar a velocidade da cabeça, como num espasmo constante.

Sou daquelas pessoas que nunca paráva de falar, até vir para um call-center. Desde que a minha voz se tornou o meu instrumento de trabalho, que deixei de ter garganta para muita coisa. Antes gostava de rir alto, de cantar, de falar...tudo isso se perdeu naqueles dias de amigdalite afónica em que fui obrigada a trabalhar, porque não podia faltar ao serviço. Os assistentes de call-center têm que ter tanto cuidado com a voz como os radialistas. Se ficam doentes da garganta, perdem o seu instrumento de trabalho. Por sua vez, o próprio trabalho impede que um assistente de call-center se recomponha de qualquer resfriado ou constipação. Se estamos afónicos, é certo que vamos piorar depois de um dia inteiro ao telefone a falar, como se 1+1 fosse igual a dois.

São estas algumas das consequência de trabalhar num call-center. Ganhamos calo mas também perdemos qualidade de vida.

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