sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Más línguas.

As más línguas rondam neste escritório. A começar pelas diferenças culturais que nós, assistentes, temos de derrubar.

Todos os clientes internacionais que atendemos, correspondem a uma imagem formada, a um protótipo. Até porque o som é imagem. Assim, quando falamos com ingleses, já sabemos que eles são os clientes mais simpáticos e bem-educados. São dos poucos capazes de agradecer a simpatia e a elogiar o nosso trabalho. Imaginamos logo um cliente todo aprumado a beber o seu chá enquanto fala connosco. Sério. É revigorante. Especialmente depois de falarmos com os americanos que, além de nos tratarem como atrasados mentais, gritam connosco a toda a hora coisas do género "YOU RUINED MY CHRISTMAS!". Os americanos fazem-nos sentir mal. Mesmo. Apesar de~nem serem dos piores.

Os espanhóis que apanhamos são engraçados. É diferente, pois eu não tenho "skills" para atender em espanhol, no entanto, volta e meia cá eles cantam ao ouvido, o que me força a puxar pelo "espanholês". Lá me desenrasco com um "buenas tardes" e "gracias por aguardar". Não gosto muito destas misturas (explosivas). Já aconteceu a comunicação não se conseguir fazer ao ponto de eles desistirem e me desligarem o telefone na cara. Ainda bem que isso, por vezes, acontece. Se há coisa mais irritante do que um açoriano ou madeirense em linha (e os seus sotaques alienígenas aniquiladores da beldade da língua portuguesa), é aquela sonoridade espanhola, sempre igual. Parece que falamos constantemente com a mesma pessoa e parece que ela está sempre zangada.

Há quem diga que "a incompreensão é a maior solidão". Sinto profundamente essa constatação quando lido com os BRASILEIROS, que constituem 50% da nossa clientela. O Brasil e Portugal são países separados pela língua portuguesa. Sem dúvida. Como há mais afinidade linguística, há menos tolerância, pois os brasileiros, regra geral são burros. Burros que nem uma porta. Têm uma extrema dificuldade em perceber a mais básica das palavras com pronúncia portuguesa. Vou ilustrar a situação com um exemplo dialógico:

- (nome do serviço), boa tarde, está a falar com "Paulo", em que posso ajudar?
- Hããã...Oi...!?
- (nome do serviço), boa tarde, está a falar com "Paulo", em que posso ajudar?
- Eeehhhh...quem?
- Paulo!
- Ah, Fernando! Tudo bem? 

E mesmo assim, eles percebem mal os nossos nomes, se for preciso. Ou seja, 5 minutos só para a saudação e troca de identidades. 5 minutos é o tempo em que "despacho" um cliente inteligente, que saiba o que quer e que perceba bem o português, à primeira. Geralmente, com o brasileiros, temos de repetir mil vezes as deixas e até chegamos ao ponto de nos ter de rebaixar e falar com sotaque brasileiro. Esta do sotaque foi a descoberta mais recente, antes começava a falar em câmara lenta e com a máxima gesticulação bocal, até parecer uma anormal. Como isso não adiantava, então comecei a falar brasileiro. Ué, melhorou muito, viu?

Outra consequência de lidar com muitos brazukas é a importação de algum vocabulário "zuka". Quando dou conta, já estou falando no gerúndio e utilizando expressões como "por gentileza...". A dislexia também é contagiosa. Se a gente fala "PT", eles vão certamente dizer "TP", por isso, alguma psicologia inversa vai ser o próximo método experimental.

Contudo, por vezes ainda dá para rir com os "zukis". Alguns são simpáticos e a maior comédia. Outros são, simplesmente, burros e chatos. Há de tudo. O culminar da situação "zuki" consiste em clientes que, mal ouvem o português, desligam a chamada por aversão (sim, a gente sabe de que país nos estão a ligar); outros, respondem "Eh..." e "Isto!" (em vez de dizerem "isso", eles dizem "isto") a todas as perguntas que a gente faça, com medo; há também os que preferem falar connosco em inglês, pois percebem melhor o inglês do que "o português de portugal".

A cereja em cima do bolo são os brasileiros imigrantes. Misturam todas as línguas e sotaques. É o terror.

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